sábado, 15 de outubro de 2011

Depoimento sobre a Formação Continuada Elaboração de Projetos


Depoimento sobre a Formação Continuada Elaboração de Projetos e o desenvolvimento do projeto com os alunos em sala de aula

Professora Janete Miorando

No 1º semestre de 2010, na Escola Municipal Norberto Schwantes, iniciamos um curso sobre Pedagogia de Projetos, que acontecia todas às terças- feiras. No início foi difícil, pois estávamos desmotivados em relação a elaborar projetos para desenvolver em nossa escola, porque já havíamos sofrido retaliações por parte da comunidade em relação a projetos na escola.

Surgiu então a Professora Elenir Fanin e o Professor Domingos Jari Vargas, com um discurso sobre Pedagogia de Projetos. No início fiquei irritada, pois não acreditava que essa forma de trabalho pudesse vir a nos ajudar e sim viria somente a deixar-nos mais frustados do que já estávamos, vou ser sincera, não gostei da temática, mas decidido pelo grupo resolvemos fazer o estudo que a professora Elenir e o professor estavam nos propondo.
Chegou o primeiro encontro, os professores articuladores do estudo pediram para que nós falássemos sobre alguns projetos que havíamos desenvolvido na escola. Foi difícil, pois, nada dava certo, não conseguíamos concluir nossos projetos. Foi aí que veio a grande surpresa. Com a leitura que fizemos da apostila “Elaboração de Projetos”, nós professores da referida escola percebemos que não estávamos trabalhando com projetos. Nesse momento eu, particularmente fiquei nervosa, pois estava certa que já havia desenvolvido alguns projetos com meus alunos, mas nesse caso, não passavam de estratégias de trabalho.
Começamos a ler e discutir a apostila e durante os encontros, é que percebi o que realmente é um projeto. O mesmo deve partir da curiosidade do aluno e não do que o professor quer pesquisar, o professor deve ser o articulador, mediador, orientador, facilitador e estimular o aluno no processo em desenvolvimento, do trabalho durante a realização do projeto. O professor não deve ter inibições em reconhecer seus próprios conflitos, erros e limitações e em buscar, esclarecer suas dúvidas numa atitude de parceria e humildade diante do conhecimento que caracteriza a postura interdisciplinar.
Na Pedagogia de Projetos o aluno levanta as hipóteses de acordo com sua curiosidade, tornando assim o trabalho prazeroso para ele, pois o que está descobrindo é realmente o que lhe interessa. Nesse intercambio é que o professor deve “rebolar” e desenvolver os tão famosos conteúdos que devem ser trabalhados no decorrer do ano.
Toda criança se desenvolve indo ou não à escola. Ao chegar à escola ela é portador de um conhecimento que foi adquirindo durante sua vivência familiar e comunitária. Cabe à escola então usar estratégias importantes e que estejam de acordo com o período de desenvolvimento da mesma.
Durante este curso desenvolvi com meus alunos um projeto com o tema “As Minhocas”. Fiquei preocupada, pois não dominava o tema que seria estudado, mas no decorrer do tempo, fui percebendo que os conteúdos que são do núcleo comum surgem de forma espontânea e que o conhecimento relacionado ao tema vai surgindo durante o processo, sem que o professor necessite de enormes textos e questionários. Dessa forma o aluno aprende fazendo, comprovando, testando e tirando suas próprias conclusões que depois são confrontadas e no debate na sala o professor direciona para que as crianças cheguem a concluir a resposta mais adequada e formar assim seu conceito.
Assim, relato aqui um pouco dos momentos significativos que vivi no decorrer desta experiência.
Depois de muita angústia e muitos planos, voltei à sala de aula, pronta para desenvolver um projeto que seria apresentado na Mostra do Conhecimento, evento que acontece todo ano na escola e na sede do município. Estava tudo pronto, eu já sabia o que eu ia fazer. Queria trabalhar com meus alunos sobre a fecundação do ovo na formação do pintinho. Na minha cabeça sabia tudo o que ia fazer, já tinha início, meio e fim para meu trabalho. Eu dominava todo o conteúdo que seria desenvolvido durante a pesquisa, resumindo: meu trabalho estava pronto, eu já havia decidido o que fazer e pronto.
Apresentei a proposta aos alunos, eles nem se importaram, mas eu queria, insistia, pois eu tinha certeza que seria bom, “para mim”.
Foi difícil, eu falava do ovo e eles queriam saber por que não encontravam minhocas para poderem pescar, não dei importância na fala deles, pois para começar eu tinha medo de minhocas, nunca peguei uma na mão, não sabia nada sobre esses animais.
Durante um encontro de formação desabafei com o grupo:
- não sei o que fazer, eu falo para meus alunos do ovo e eles falam das minhocas. Estou em pânico, não posso fazer um projeto sobre minhocas, não sei nada sobre o assunto, o que vou fazer?
O professor Domingos achou o máximo, professora Elenir ficou feliz e falou que eu já tinha um começo, eu não via nada de começo.
Voltei à sala e demonstrei interesse em trabalhar o que eles estavam querendo saber, foi uma enxurrada de questões que os alunos falaram sobre suas curiosidades: “Onde as minhocas vivem?”; “O que elas comem?”; “Como elas andam?”; “Como as minhocas nascem?”; “Como é seu corpo?”; “Minhoca tem boca e Ânus?”; “Minhoca faz cocô?”; “Minhoca vive somente em solo úmido ou pode ser seco?”; “Minhoca vive se colocada dentro da água?”; “Pra que serve a minhoca?”.

Iniciei o trabalho, a cada aluno que ia passando eu ia sentindo uma força que vinha dos alunos, o meu trabalho inverteu, eles falavam o que queriam saber e eu só direcionava buscando alternativas, eles me davam sugestões de como fazer e juntos nós íamos montando as estratégias de trabalho.
Trabalhando dessa forma, os meus alunos formavam seus conceitos sobre os conteúdos sem que eu ficasse horas e horas no quadro, no livro passando textos e questionários, foi maravilhoso o resultado.
A cada aula eu me sentia feliz, ao ver as crianças produzindo e olha que meus alunos são crianças de 7 anos, estão sendo alfabetizados agora. Consegui desenvolver o projeto e dentro dele trabalhar conceitos que só se trabalha com alunos de 4ª série. Todos os meus alunos leem, escrevem pequenos textos e têm um conhecimento científico ampliado, aberto.
Durante o desenrolar do projeto, trabalhamos pesquisa de campo, colhendo minhocas, observando com auxílio da lupa, comparávamos o que víamos com o que pesquisávamos no laboratório de informática.
Por várias vezes tive que ter a humildade em dizer para as crianças que não sabia o que eles queriam saber, esse momento era emocionante, eles se sentiam importantes em poderem ir junto comigo e descobrir o que estávamos querendo saber, comemorávamos juntos cada descoberta.
Certo dia levei-os ao laboratório para que representassem o tux paint como a minhoca vive e se movimenta embaixo da terra, confesso que achei impossível, pois é difícil, qual não foi meu espanto quando percebi que eles estavam conseguindo e vibravam a cada parte que desenhavam e pintavam,conseguiram salvar e guardar em uma pasta com seu nome, fiquei emocionada, pois no inicio do trabalho achei que não daria certo e agora estava surpresa, meus alunos estavam fazendo um trabalho que muitos não conseguiriam.
Chegou o dia da apresentação, eu estava tensa, sabia que eles estavam preparados, mas era meu primeiro projeto que estava dando certo, os alunos ansiosos.
Foi a maior emoção que senti ao ver os alunos explicando o trabalho de uma forma incrível, surpreendendo a cada pessoa que ali chegava, dominando o assunto respondendo as perguntas que eram feitas, sobre alimentação, respiração, reprodução, importância das minhocas para a natureza, etc.
Confesso que chorei, abracei meus alunos e percebi que eles aprenderam e eu aprendi com eles, essa forma de trabalho criou entre nós um laço afetivo muito grande.
Entendi agora que um projeto só pode dar certo se for construído junto com o aluno.
Eu me sinto orgulhosa em dizer:
- Meus alunos apresentaram um projeto.
A partir de agora só vou trabalhar dessa forma, pois é mais prazeroso e o aluno aprende de verdade, mas vou confessar uma coisa, o professor tem que se preparar a cada dia, e de acordo com o que seu aluno falou no dia anterior.
O mais lindo era quando eu falava para eles: - isso eu não sei! Todos queriam descobrir a resposta para passar para mim, as crianças não viam o professor como o dono do saber, e sim como alguém que estava interessado em aprender o que eles decidiram pesquisar.
A avaliação que eu fiz com os alunos foi através de um cartaz onde eles recortaram e colaram figuras a respeito do que havíamos pesquisado, no final comuniquei a eles que tinham feito uma avaliação. Os alunos ficaram felizes, e uma aluna comentou: - Professora, eu fiz uma avaliação? Nossa hoje eu não fiquei nervosa, e parece que só era mais uma pesquisa de nosso projeto.
Por isso professor observe seu aluno e dessa forma você vai trabalhar gostoso e sem estresse. Seja feliz, trabalhe de acordo com as curiosidades deles e os conteúdos vão aparecendo de uma forma que eu não sei explicar, mas vou desenvolver outros projetos e logo posso te explicar.
Tudo isso só é possível se a gente estiver firmado em teorias para explicar a comunidade que o caderno do aluno passa até ter pouca coisa, mas a cabeça deles está cheia.

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